Alguns
críticos da musica costumam achar que no meio gospel há uma certa mesmice.
Geralmente as letras, arranjos e performance vocal são quase sempre
parecidos. Entretanto, uma nova safra de artistas gospel vem se destacando
exatamente por decidir remar contra essa maré.
Entre
esses artistas tive o prazer de entrevistar Tim Mendes (38). Tim é produtor
musical, músico, compositor e interprete. Nascido na cidade de São Paulo –
coração econômico do Brasil – o artista teve seu primeiro contato com a musica
aos sete anos.
De
origem gospel, Tim Mendes em sua infância acompanhava com os olhos e ouvidos
bem atentos os ensaios e apresentação do grupo de sua igreja. Nas canjas de
finais de cultos o pequeno Tim escapava dos pais e ia logo para junto dos
músicos para apreciar o que se tornaria no futuro seu prazer e profissão.
Então
seu pai, senhor João Mendes, começou a observar a paixão do filho pela musica.
Imediatamente colocou-o para estudar musica. O casamento do artista com seu
principal instrumento, o violão, completou trinta e um anos em 2016.
No
ano de 1988, quando tinha apenas dez anos, sua família muda-se para Hortolândia,
pequena cidade do interior do estado. Não havia muitas oportunidades de estudar
musica como nas grandes cidades. Porém, isso não o impediu de seguir em frente.
Seu
pai viajava constantemente para São Paulo, e de lá trazia os vinis do músico Djanir.
Tim colocava os bolachões ‘Djanir e Sua Guitarra’ na vitrola
e em pouco tempo estava tocando todo o hinário da igreja. Aqueles discos, até
então, eram sua única fonte para se desenvolver como músico.
O
artista conta que teve uma infância tranquila, costumava jogar bola com as
outras crianças, brincar de pega-pega, e, sobretudo, estudar. Tim Mendes sempre
levou os estudos muito a sério, principalmente o estudo da musica. “Já
cheguei a estudar musica nove horas por dia, só parava para comer”,
ressalta.
Frequentemente
a senhora Miriam, sua mãe, tinha que interceder. Na época de avaliações
escolares ela o orientava a estudar menos musica e se dedicar um pouco mais às
matérias da escola. O que não era problema para Tim, pois, desde criança
procurou cumprir com seus deveres, sabia que aquilo seria um diferencial para a
vida inteira.
No
quintal onde a família morava em São Paulo havia mais duas casas e uma igreja. A
primeira apresentação se deu bem ali naquela pequena igreja. Ali se reunião um
grupo de irmãs todas as quartas feiras no período da manhã. Faziam suas orações
e também cantavam para louvar ao Senhor.
De
uma escada, o futuro músico ficava apreciando o canto das irmãs. Mas faltava
alguma coisa. Claro, faltava o acompanhamento instrumental! Então Tim se
ofereceu para acompanhar o grupo com seu o violão. Agora o grupo estava
completo, entre acertos e erros, o garoto se empenhava ao máximo, e as irmãs
sempre foram muito pacientes e carinhosas com ele, enfatiza.
Nessa
mesma igreja, também não havia músicos nos cultos do período noturno, apenas um
irmão que tocava de vez em quando. Mais uma oportunidade e Tim não deixou
escapar. Foi quando desenvolveu mais ainda seus dotes musicais. Tirava as
musicas de ouvido e começou a ajudar a igreja. “A igreja que eu frequentava antes
já tinha uma banda formada, bons músicos, lá eu não ia ter vez”, destaca.
Já
em Hortolândia a família passou a frequentar uma igreja da região. Lá Tim pôde
conhecer Enoque Rodolfo (atual violonista de Marcos e Belluti) e Enéias filhos de um
pastor recém-chegado. Um dos meninos tocava guitarra e o outro tocava contrabaixo.
“Esse Enoque era muito fusado, ele tirava muitos solos de ouvido e me passou
algumas coisas”, ressalta. Essa seria sua primeira experiência em
uma banda. Aos onze anos seu pai o coloca para aprender trompete em um curso
oferecido pela igreja.
Com
quatorze anos, Tim volta a aulas de musica e escrita musical. “Passei dois
anos estudando aquilo que eu já fazia na prática, porém, não entendia como era
na teoria”. Algum tempo depois, frequentou o Conservatório de Musica de
Tatuí, onde estudou por dois anos. Porém teve que parar com o curso
pela inviabilidade financeira.
Entretanto,
em sua passagem por Tatuí, Tim conheceu alguns alunos que também davam aulas.
Dentre eles Marcelo Modesto (atual guitarrista de Chitãozinho e Chororó), que
naquela época era um jovem estudante de musica que vivia em Campinas. Então Tim
passou a estudar com Marcelo Modesto em Campinas. “Modesto é grande músico,
um grande cara, ele me abriu muito o leque de musica, é em quem eu me espelho, a
forma que ele me ensinou me permitiu tornar-me autodidata”, destaca.
Aos
dezesseis começa a dar suas primeiras aulas de violão em um quartinho que
ficava ao fundo de sua casa. Nesse período as aulas que ministrava se tornou
sua principal fonte de renda. Era com esse dinheiro que pagava seu curso de
Processamento de Dados e comprava suas coisas. O curso de Processamento de Dados
atrelado a musica deu à Tim a base necessária para se tornar um competente
produtor musical.
Com
dezenove anos o artista se aventurou fazendo bicos como segurança por influência
de um primo. Tomou gosto pela área e por conselhos de seu pai prestou concurso
para ser policial. Tanto ele, quanto seu pai acreditava que haveria uma
oportunidade de que ele entrasse para a banda da PE. Seu pai sempre o apoiou na
musica, incentivado a fazer cursos e comprando de instrumento. Todavia, o
senhor João Mendes sabia que era difícil viver daquela profissão e engajar na
banda da polícia seria uma excelente alternativa. Embora tenha passado em todos
os testes, Tim não foi aprovado no teste físico e o projeto de entrar para a
banda da PE foi interrompido.
Apesar
do amor a arte, o artista teve outras profissões, ainda não dava para se manter
completamente da musica. Trabalhou por certo tempo em banco no período noturno.
Nessa época, chegava do trabalho pela manhã, dormia um pouco, dava aulas a
tarde e estudava musica a noite.
Sua
maior influência musical é a Black Music Gospel, Jazz e corais
norte-americanos. Em uma ocasião, Modesto aconselha-o a tocar Jazz, pois, era o
estilo que Tim gostava muito e estudava. “O Marcelo me disse: ‘cara você tem
uma pegada legal, mas você precisa tocar Jazz, não tem como você estudar um estilo
sem tocar ele’”. Através de um grupo de estudos, Tim começa a tocar Jazz e
passam a se apresentar na noite, além de fazer free lance com bandas de
outros gêneros.
O
artista acrescenta que, embora goste muito de Jazz com ele não há
preconceitos musicais, respeita todos os gêneros. Pois, nos variados estilos há
músicos bons e ruins. “Eu valorizo muito aquele músico que não importa se
ele sabe muito ou pouco, mas com aquilo que ele sabe ele tira som, faz com amor”,
ressalta.
Aos
vinte e quatro anos, Tim casa-se com Silvana, moça que conheceu na igreja e que
iria se tornar sua companheira de todas as horas, maior incentivadora de sua carreira
e mãe de seus dois filhos, Diego e Bernardo. Em uma fase de sua vida o artista
passou por momentos difíceis de saúde. Porém, sua esposa estava sempre ali,
cuidando e apoiando. “Hoje eu consegui chegar onde cheguei na musica, por
causa dela”, revela.
Já
com bastante bagagem musical, Tim Mendes passou a ser chamado por produtores
musicais para participar de gravações em CDs e DVDs de outros artistas como: Prisma
Brasil, Tom de Vida, Vocal Louvor, Kenia Rodrigues, Júlia Ribeiro, Sara
Estevão, J. Silva, entre outros.
A
oportunidade de montar seu próprio estúdio surgiu quando seu amigo Charbel (engenheiro
de som) – com quem fez vários trabalhos – decidiu encerrar as atividades do estúdio
e sugeriu que Tim comprasse parte dos equipamentos para montar seu próprio estúdio.
Então, adaptou uma parte da casa onde morava e passou a produzir para muitos
artistas independentes. Hoje Tim Mendes, em um novo e bem equipado estúdio, é
conhecido e bem relacionado no meio musical pelos diversos trabalhos realizado
como músico e também como produtor musical.
Perguntado
sobre seus processos de compor, o artista nos revelou que todas as suas
composições são baseadas em experiências de vida e em sua relação com Deus. “Às
vezes eu consigo me comunicar mais com Deus cantando do que falando”. “Eu não
sou uma pessoa religiosa, sou uma pessoa que ama Deus acima de todas as coisas”,
enfatiza.
O
CD ‘Tim Mendes – Minha Oração’ (2012), trouxe uma musicalidade diferente
para o gênero gospel. O instrumental é marcado com elementos do Jazz e
da Black Music, as letras traz o tema da paz, amor e adoração ao Senhor.
Em suas composições, Tim sempre procura enfatizar as benevolências de Deus levando
o evangelho sem cair no fanatismo religioso. “Eu vejo o evangelho com uma
simplicidade como Jesus foi e o respeito ao próximo tem que haver independente
da crença de cada um”, considera.
Além
do tema de Abertura, o CD ‘Minha Oração’ traz as canções: Vamos Louvar,
Adorador, Minha Oração, Haverá Um Amanhã, Botafogo, Digno de Adoração, Te
Louvo, Me Ensina a Esperar em Tim, Nunca Falhará, Toca em Mim e Verdadeiro
Adorador. Dentre elas a preferida de Tim Mendes é a musica Nunca Falhará. Para saber mais sobre o trabalho de Tim Mendes acesse: Facebook, Palco MP3 e Fan Page.
por Zel Florizel
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